Álcool e mergulho não combinam!
O carnaval, o mergulho e toda atividade social pode ser o nosso programa para o carnaval, certo? Normalmente, durante estes períodos, nos tornamos mais sociais, brincamos, festejamos o convívio com amigos e dividimos o prazer de visitar um mundo submerso com nossos parceiros de atividade, nossa família mergulhadora.
Como em todo rito de socialização, há quem, no fim do dia, relaxa num bar no meio do caminho de casa/hotel/pousada bebendo uma cerveja após ter realizado vários mergulhos cansativos no dia. É comum nas atividades sociais paralelas ao mergulho que alguns mergulhadores se liberem fazendo coisas que não fazem parte das suas rotinas habituais e essas atividades podem tirar o sono indispensável para que o mergulhador se refaça de um dia de mergulho, gerando mais cansaço e, possivelmente, fará com que a hidratação seja relaxada e que isso tudo junto afete nossa boa condição para o mergulho.
Pois bem, vamos aqui falar do efeito do álcool no mergulhador.
fato #1: desempenho psicomotor e discernimento
Assim como fora d’água, o álcool afeta nosso desempenho psicomotor e capacidade de discernimento e raciocínio com ainda maior intensidade sob pressão. Sendo, portanto, um dificultador de realização de atividades básicas debaixo d’água e, consequentemente, aumentando o risco de perda de controle sobre a atividade realizada e capacidade de bom julgamento.
FATO #2: a ressaca
Não somente durante o efeito claro do álcool, mas também durante sua “ressaca” devemos cuidar para que mergulho e álcool (e seus efeitos) não estraguem o nosso Carnaval! Há estudos que comprovam que o tempo de reação, a performance de avaliação visual, a atenção concentrada, a capacidade de procurar informação em tarefas que dividem a atenção, o julgamento e execução de tarefas motoras, tão necessárias à prática do mergulho seguro, estão diminuídas quando o álcool está ou esteve no corpo nas últimas 24 horas.
FATO #3: intoxicação
Legalmente, a intoxicação por álcool é considerada quando há níveis de álcool acima de 0,1% no sangue. É difícil aceitar que uma pessoa com uma concentração de álcool no sangue de 0,09% não possa estar sob efeito do álcool. Além disso, o efeito depende de pessoa para pessoa em função de limites individuais de sensibilidade à droga. Portanto, qualquer ingestão de álcool vai ter algum efeito sobre o sistema nervoso central de uma pessoa. Isso não quer dizer que se uma pessoa leva umas 4 horas para se considerar “bem” para mergulhar você seguirá o mesmo padrão.
E vale lembrar aos encorajadores do álcool para o “relaxamento” que o seu efeito nunca melhora a performance sobre atividades psicomotoras. O sujeito simplesmente acredita que pode fazer algo melhor que o outro. É só uma ilusão de quem está sob efeito do álcool. O uso do álcool, mesmo em dose moderadas, claramente carrega um aspecto de comportamento auto-destrutivo e leva a altas probabilidades de acidentes sérios. Principalmente em atividades de risco como no mergulho autônomo.
O papo é sério gente!!! Um estudo com mergulhadores profissionais bem treinados identificou diminuição significativa de desempenho na realização de tarefas comuns ao mergulho autônomo com níveis de álcool no sangue de até 0,04%. O mesmo trabalho cita um claro aumento de risco de acidente com trauma quando um homem de 80 Kg ingere 1 latinha de cerveja em uma hora, estando de estômago vazio, antes de um mergulho.
FATO #4: risco de doença descompressiva
Apesar de todas as evidências e recomendações de cursos com padrões reconhecidos de segurança, há muitos que ainda insistem na prática e tentam se convencer de que não há problemas nisso. No entanto, o risco de acidente está, naturalmente, aumentado e, certamente ter qualquer quantidade de bebida no corpo é um risco desnecessário considerando que mergulhamos num ambiente estranho à nossa fisiologia e que há a necessidade de um conhecimento complexo não somente ao ato de mergulhar mas também aos cuidados com a descompressão para saber se você deve ou não mergulhar sob o efeito do álcool (isso, claro, para os mais ousadinhos).
Se você, como nós, faz parte do grupo conservador que adora seguir regras de segurança, seja conservador e evite permanecer junto de grupos que bebam em intervalos de superfície, pois pode sobrar pra você ter que resgatar o inconsequente. E, obviamente, isso afeta também a sua própria integridade.
FATO #5: desidratação
Outro ponto importante é o álcool ser um potente diurético, o que, naturalmente, promove desidratação antes, durante e após o mergulho. A desidratação é considerada uma das causas mais importantes na doença descompressiva. Portanto, o uso do álcool potencializa a ocorrência de doença descompressiva. Isto é valido para uso antes ou depois do mergulho e você deve sempre se hidratar para evitar enfrentar este problema.
FATO #6: narcose
Outro fato importante é que o álcool aumenta as chances de desenvolver narcose pelo nitrogênio. Isto se deve a um efeito aditivo ao nitrogênio como depressor do sistema nervoso central.
FATO #7: conscientização
As informações disponíveis sobre as alterações relacionados ao uso do álcool devem ser informadas a todos os mergulhadores para que eles possam construir seus sistemas de valores individuais. Neste carnaval, ajude a disseminar esta consciência e salve mais mergulhadores.
Se o seu amigo de mergulho é um mergulhador consciente, ele entenderá. Do contrário, se mesmo depois uma boa e longa conversa, como um verdadeiro amigo, ele não entender, então você deve rever teu sistema pessoal de valores relacionado às amizades. Coisas ruins acontecem sim e não somente com os vizinhos ou com o “colega do primo de um conhecido do teu vizinho”.
Mergulhar e beber pode tornar uma atividade de lazer segura num pesadelo para o praticante, para sua família e para seus companheiros de mergulho e de embarcação. Portanto, seja consciente neste Carnaval e faça boas escolhas!