Neste artigo veremos o que situações de caos nos ensinam sobre a importância de se elaborar um Plano de Ação para Emergências e como fazer um Plano completo para viagens de mergulho e vida pessoal. Além disso, preparamos um PAE incrível para você baixar e facilitar sua vida.
Como você deve saber, alguns furacões passaram pela região do Caribe e sul dos Estados Unidos no mês de setembro de 2017. Isso acabou tomando o noticiário com informações sobre o percurso dos furacões Irma, Maria, Harvey e Jose e os efeitos desastrosos que teriam, sobretudo o Irma.
Mas a chegada do Irma, certamente o mais devastador, foi noticiado desde 30 de agosto. Os alertas foram chegando de todos os lados. Declarados estado de emergência em muitas ilhas para que todas as pessoas pudessem tomar suas próprias decisões frente ao maior furacão da história no Oceano Atlântico.
Nós conhecemos muitas pessoas que foram afetadas diretamente por todos esses eventos. Algumas delas, inclusive, já entrevistadas por nós aqui no blog, como a Mauri, a Tati e a Lisa na campanha Mulheres do Mar, que vivem em seus barcos na região do Caribe. Temos também familiares e amigos que vivem na região do sul dos EUA.
Antes de tudo, eu quero aplaudir todas essas pessoas – sejam elas evacuadas ou que ficaram em casa – pela coragem e força que todos demonstraram durante essas circunstâncias. Nenhuma decisão é fácil nessas situações e cada uma tomou a melhor decisão para si. Isso por si só merece reconhecimento.
Acompanhamos cada um nestes dias de tensão, nas redes sociais, mensagens pelo celular ou mesmo nas orações. Foi interessante, falando friamente, ver como cada um decide o que fazer. Mas o fato é que TODOS tiveram seu Plano de Ação para Emergências.
Alguns instalaram janelas antifuracão meses antes do anúncio do Irma, outros instalaram cunhos extras nos barcos. Enfim, todos trabalharam incessantemente para passar pelo furacão categoria 5 com o mínimo de danos físicos possível.
Dizemos físico, pois emocionalmente todos seriam abalados, com ou sem danos físicos. Mesmo nós, que estávamos bem longe da rota, acabamos sendo tomados por uma onda de solidariedade e sentimentos que ultrapassou a barreira geográfica.
Algumas pessoas, tomados de desespero, nos Estados Unidos, decidiram atirar no furacão Irma! Sim, atirar com arma de fogo contra o furacão! Isso ocorreu na Flórida e as autoridades pediram para que não fizessem isso. E que, se precisassem de ajuda, que solicitassem aos canais amplamente divulgados na mídia!
Mas numa situação como esta, de absoluta crise, como VOCÊ reagiria?
A reação diante da crise
Segundo o artigo Intervenção em crise, a expressão “crise” provém da palavra grega krisis. Que significa “decisão” e deriva do verbo krino, que quer dizer “eu decido, separo, julgo”.
Vivenciar uma crise é uma experiência normal de vida, que reflete oscilações do indivíduo na tentativa de buscar um equilíbrio entre si mesmo e o seu entorno. Quando este equilíbrio é rompido, está instaurada a crise, que é uma manifestação violenta e repentina de ruptura de equilíbrio.
Quando estamos em situação de crise, nosso comportamento deve ser de reação e nunca de planejamento.
Isto porque geralmente não há muito tempo disponível para pensar quando a crise eclode. Estudos relatam que há 85% de chances de sucesso na resolução de problemas quando há um Plano de Ação para Emergências para as possíveis crises.
Em se tratando de uma vida, que é o nosso foco no mergulho e na vela, o planejamento deixa claro a importância de seu caráter preventivo e, obviamente, de sobrevida para qualquer vítima.
O Plano de ação para emergências (PAe) no MAR
Mas neste artigo vamos focar no Plano de Ação para Emergências no mergulho, que é um tema bastante delicado entre os mergulhadores por aí.
Mesmo que você ainda não seja um mergulhador certificado e deseja fazer uma experiência subaquática, pergunte (sem medo) sobre o Plano de Ação para Emergências da operadora. Nunca se sabe o que pode acontecer em cima ou embaixo d’água.
Vale ressaltar aqui que a prática de mergulho recreacional tem incidência de acidentes baixíssima! O mergulho é uma atividade física pouquíssimo radical, controlada e dentro dos limites de segurança. Portanto:
O mergulho é uma prática esportiva extremamente segura.
Quando ministramos nossos cursos de mergulho, como instrutores, explicamos bem para nossos alunos que para se darem bem no mergulho, basta observar os protocolos de segurança.
Sim, o mergulho é uma sequência consistente de regras de segurança e o curso é justamente para isto! Ensinamos como lidar com problemas em cima e embaixo d’água, principalmente. Assim, para qualquer emergência, o aluno estará treinado para sair do “enrosco”.
E, acreditem, as regras são muito simples! E redundantes! Isso tudo para garantir que todos sairemos da água ilesos.
O que não podemos prever é o estado de saúde do mergulhador. O corpo humano é uma grande caixinha de surpresas e, certamente, embaixo d’água, algumas doenças não conhecidas podem se manifestar. Por isso a importância de se fazer um check-up antes de mergulhar para reduzir os riscos embaixo d’água. A isto damos o nome de PREVENÇÃO!
Tecnicamente falando, todos os problemas com equipamentos de mergulho e estresse do mergulhador são “resolvíveis” embaixo d’água ou na superfície. O que não se aplica a um problema de cardíaco, por exemplo, que está no topo da lista de problemas relacionados às fatalidades no mergulho.
Sendo assim, qualquer mergulhador que busque treinamento mais avançado em mergulho acaba tendo contato com a elaboração de um Plano de Ação para Emergências. Esses planos oferecem a possibilidade de organizar as informações mais importantes para contato num eventual acidente ou incidente de mergulho.
Mas como preparar este Plano de Ações para Emergências (PAE)? É simples e seguindo os passos abaixo, você aumentará as chances de resolver incidentes ou acidentes de mergulho.
- Liste os recursos locais: Faça uma lista escrita das instalações e recursos de emergência próximos ao seu ponto de mergulho. Exemplo: hospitais, clínicas, provedores de busca e salvamento e serviços de transporte ou ambulâncias. Mergulhadores acidentados devem ser levados sempre ao serviço médico mais próximo. Isto porque nem todas câmaras hiperbáricas estão equipadas para receber diretamente mergulhadores acidentados.
- Escreva um passo-a-passo: Descreva com detalhes os passos que deverá seguir, pois isso economizará muito e reduzirá o estresse de todos se o “script” do que deve ser feito estiver pronto para ser seguido. Exemplo: 1) Avaliar o estado da vítima. 2) Ligar para o Serviço Médico de Emergência ou de Busca e Salvamento local. 3) Estabilizar a vítima e aplicar os primeiros socorros. Para cada passo, pode-se criar ainda um fluxograma detalhado sobre o que deve ser feito em cada uma das situações que encontrar.
Para facilitar a sua vida, criamos um PAE básico para você se guiar e, assim, garantir uma viagem de mergulho mais segura!
Além do que já listamos como sendo primordial para o Plano de Ação para Emergências, vale lembrar os seguintes itens listados pela DAN em seu Guia Passo de Gigante. Embora sejam itens secundários do PAE, fazem a diferença quando desejamos minimizar problemas no mar:
- Compartilhe informações: Conte ao seu dupla sobre suas alergias, condições médicas, cobertura de seguros e se você é um associado da DAN. Se você se sentir desconfortável em compartilhar informações pessoais, escreva-as, lacre-as em um envelope e diga ao seu dupla onde ele está. E sempre diga a alguém em terra firme onde você está e a que hora deve retornar.
- Fique alerta: Seja um mergulhador alerta. Saiba que, até mesmo quando um mergulhador faz tudo certo, coisas ruins podem acontecer. Não seja pego de surpresa quando elas acontecerem. Um nível maior de treinamento pode trazer calma em meio ao caos.
- Faça treinamento de primeiros socorros: Certifique-se de que suas habilidades de primeiros socorros, ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e administração de oxigênio estão atualizadas. Se você não teve a oportunidade de concluir esse treinamento, certifique-se de identificar quem, no seu grupo possui treinamento. Talvez um divemaster, companheiro de mergulho ou profissional da área da saúde no ponto de mergulho.
- Leve suprimentos de emergência: É fundamental manter o seu kit de primeiros socorros armazenado adequadamente e com itens dentro do prazo de validade. Você também deve ter certeza de contar com oxigênio suficiente disponível para cuidar de pelo menos um mergulhador acidentado até a chegada do pessoal médico. Obviamente, locais remotos requerem mais oxigênio.
Depois de ler todas estas dicas, você, como mergulhador, deve estar se perguntando: mas e a câmara hiperbárica? Não precisamos saber exatamente onde ela está e colocar no nosso Plano de Ação para Emergências, caso tenhamos um problema de doença descompressiva?
A DAN freqüentemente passa informações sobre cuidados, transporte e tratamento hiperbárico de mergulhadores acidentados, mas, não fornece informações sobre localização de câmaras hiperbáricas. A principal razão é um esforço para que mergulhadores com suspeita de Mal Descompressivo procurem um hospital em 1° lugar.
Antigamente, mergulhadores freqüentemente passavam na frente de hospitais com excelentes recursos no caminho para a câmara hiperbárica. Mesmo quando mergulhadores chegam à superfície com sinais claros de doença descompressiva, a melhor opção é sempre procurar o pronto socorro ou hospital mais próximo.
Portanto, sua melhor escolha é sempre usar os serviços médicos de emergência disponíveis para cuidar do mergulhador acidentado.
A DAN (Divers alert network)
Para quem ainda não conhece a DAN, é um uma organização sem fins lucrativos apoiada pelas quotas e doações dos associados. A missão da DAN é promover a saúde e a segurança do mergulhador por meio de pesquisa, educação, produtos e serviços e ajudar os mergulhadores em caso de necessidade de assistência médica de emergência.
Para isso, eles mantém uma hotline de emergência para atender os acidentados que funciona em todo mundo. Todo escritório da DAN oferece serviços de pessoal médico especializados em emergências e serviços de indicação para comunidades de mergulho regionais.
No entanto, eles relatam que alguns alunos buscam o meio incorreto para elaborarem seu Plano de Ação para Emergências, ligando para o hotline ao invés da Linha de Informações Médicas.
Embora a equipe médica da DAN sempre esteja disponível para ajudar qualquer mergulhador, esse não é a maneira adequada de usar o telefone para emergências.
O hotline é dedicado para as emergências com os mergulhadores, cujo número é o 0800-684-9111. Este número não deve ser usado para testes: o custo de cada ligação atendida, válida ou invalida, é superior a US$ 100, além das tarifas relacionadas a ligações internacionais do Brasil para os Estados Unidos.
Esses valores não são significativos para emergências médicas reais, porém são proibitivos para atender situações onde não existe risco. O número 0800-684-9111 foi criado para facilitar os mergulhadores que se acidentam no Brasil. Mas a ligação é automaticamente redirecionada para o sistema de telefonia da DAN nos Estados Unidos. Isso para facilitar a comunicação de emergência e registrar as conversas telefônicas.
Estando a bordo de embarcações e afastado da costa, na maior parte das vezes, o celular é a PIOR opção. A melhor alternativa é acionar a Estação Costeira mais próxima e pedir conexão para a DAN Emergency Hotline. Isso pode ser feito tanto pelo rádio VHF Marítimo (obrigatório para todas as embarcações) quanto pelo rádio HF/SSB Marítimo (alcance mundial).
Já a Linha de Informações Médicas (figura acima), disponível de segunda a sexta das 9h00 às 17h00, serve para dúvidas que não sejam emergenciais e seu contato é pelo telefone: +1.919.684.2948 ou pelo email medicina@danbrasil.org.br (no Brasil).
Portanto, se você é um associado DAN, dissemine esta informação e assim teremos uma melhoria no atendimento que oferecem aos mergulhadores. Amanhã pode ser você.
Para um planejamento ainda mais detalhado, sugerimos a leitura completa do guia da DAN sobre mergulho seguro que apresentamos em post passado.
Finalmente, nós do blog IPA Dive oferecemos nossas preces para uma restauração ou resolução rápida de suas circunstâncias devido aos furacões ocorridos em setembro de 2017. Força a todos, sobretudo àqueles no Caribe.
Para facilitar a sua vida, criamos um PAE básico para você se guiar e, assim, garantir uma viagem de mergulho mais segura!
Referências:
Artigo Intervenção em crise: http://psicoterapiaepsicologia.webnode.com.br/products/interven%C3%A7%C3%A3o%20em%20crise/
Informações DAN: http://www.danbrasil.org.br/relatorios-anuais
Dados sobre acidentes mais comuns de mergulho: http://www.webventure.com.br/segundo-presidente-da-dan-erros-humanos-sao-a-principal-causa-dos-acidentes-de-mergulho/
Imagens: http://br.freepik.com/
Parabéns isso ai!
Valeu, Rosival! Que bom que gostou! Abç!