Um amigo mergulhador, certa vez, sem condições médicas anteriores, começou a reparar que ficava constantemente com sede, urinando também com mais frequência e inexplicável perda de peso. Havia uma história de diabetes em sua família, mas ficou completamente surpreso quando seu médico explicou que ele tinha desenvolvido diabetes tipo 2. Será que o diagnóstico interferiria com a sua capacidade de mergulhar? Foi a primeira pergunta que nos fizemos!
Até porque, viivemos uma epidemia mundial de diabetes que se propaga de forma avassaladora, seguindo os passos da obesidade e da vida sedentária. Só no Brasil há uma cidade de SP com a doença! São cerca de 12 milhões de pacientes com diabetes! Se esse número é assustador, mais ainda são as previsões: se continuarmos preguiçosos e engordando, em 2050, cerca de 30% dos adultos sofrerão de diabetes.
#1 O que é Diabetes?
O diabetes é uma doença metabólica caracterizada por um aumento anormal do açúcar ou glicose no sangue. A glicose é a principal fonte de energia do organismo porém, quando em excesso, pode trazer várias complicações à saúde, como o excesso de sono no estágio inicial, problemas de cansaço e problemas físico-táticos em efetuar tarefas desejadas. Quando não tratada adequadamente, podem ocorrer complicações como ataque cardíaco, derrame cerebral, insuficiência renal, problemas na visão, amputação do pé e lesões de difícil cicatrização.
#2 Diabetes tipo 1 e tipo 2
No diabetes do tipo 1, que também é referida como diabetes insulino-dependentes, o pâncreas é incapaz de produzir insulina e, como resultado, a glicose fica no sangue ao invés de ser usada como energia. Esse é o tipo de diabetes que concentra entre 5 e 10% do total de pessoas com a doença. Aparece geralmente na infância ou adolescência, mas pode ser diagnosticado em adultos também, já que se trata de uma disfunção do sistema imunológico, que insiste em atacar equivocadamente as células beta produzidas no pâncreas, que produzem a tal da insulina. Este tipo é sempre tratado com insulina, medicamentos, planejamento alimentar e atividades físicas para ajudar a controlar o nível de glicose no sangue.
Já o diabetes do tipo 2, por outro lado, podem ser aliviadas por dieta ou controladas por medicação oral. Pois aparece quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz; ou não produz insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia. Cerca de 90% das pessoas com diabetes têm o tipo 2, que se manifesta mais frequentemente em adultos, mas crianças também podem apresentar. Dependendo da gravidade, ele pode ser controlado com atividade física e planejamento alimentar. Em outros casos, exige o uso de insulina e/ou outros medicamentos para controlar a glicose.
#3 Fatores de risco para o mergulho
Há alguns anos, o diabetes era uma contra-indicação absoluta para se praticar mergulho. Interessante foi descobrir durante esta “proibição” que muitos diabéticos estavam mergulhando sem sofrer qualquer tipo de problema relacionado à atividade, e omitiam esta informação quando respondiam aos questionários médicos para fazer seus cursos.
Para os médicos, bem como para as certificadoras e seus instrutores, a maior preocupação era que este mergulhador pudesse desenvolver hipoglicemia (baixa da glicose no sangue), devido ao efeito dos medicamentos, quando submerso o que poderia levar à perda de consciência com consequente afogamento, repercutindo negativamente sobre a imagem da atividade de mergulho deixando de ser segura.
A partir da informação de que existiam mergulhadores diabéticos, a Divers Alert Network (DAN) e a Undersea and Hyperbaric Medical Society (UHMS) resolveram, em conjunto, aprofundar as pesquisas sobre o assunto e chegaram à conclusão de que, seguidas determinadas orientações, o diabético pode praticar o mergulho com uma grande margem de segurança. Em 2005 a DAN e a UHMS divulgaram um documento após simpósio realizado nos EUA criando um guia a ser utilizado por médicos que atuam na área (veja no final do post).
#4 10 coisas que o mergulhador diabético deve fazer para mergulhar tranquilo
- O diabético deve entender sua doença e os efeitos das medicações e do exercício físico sobre ela;
- Nos últimos 12 meses não ter tido nenhum episódio de hipoglicemia com necessidade de assistência de terceiros inclusive internação;
- Ser capaz de monitorar por si próprio os níveis de glicose no sangue usando um aparelho chamado glicosímetro (aquele que utiliza uma gota de sangue extraída do dedo da mão para fazer a medida);
- Ter um dupla NÃO DIABÉTICO capaz de reconhecer os sinais de hipoglicemia e, preferencialmente, certificação mínima de “rescue diver”;
- Ter, a sua disposição, glicose de rápida absorção para uso oral e ter, no ponto de saída, seja ele barco ou litoral, Glucagon que é um medicamento para reverter a hipoglicemia bem como uma pessoa habilitada para fazer tal aplicação;
- Medir a glicemia 60 min, 30 min, 10 min e imediatamente antes de mergulhar; adiar o mergulho se a glicemia for menor que 150 mg/dL, maior que 300 mg/dL ou estiver entre estes valores, mas caindo progressivamente durante as medidas;
- Evitar mergulhos noturnos, com teto, descompressivos ou em condições de mar agitado ou ainda se houver correnteza indo no sentido contrário ao do ponto de saída;
- Se surgirem sintomas de hipoglicemia, o mergulhador diabético deve sinalizar para seu dupla formando a letra “L” com o polegar e o indicador; os dois devem subir na velocidade recomendada, estabelecer flutuabilidade positiva e o mergulhador diabético deve ingerir glicose de rápida absorção que será levada no bolso do colete; não fazer mais mergulhos naquele dia;
- Não mergulhar durante 3 meses após mudança de medicamentos usados por via oral (hipoglicemiantes orais) ou 12 meses após introdução ou mudança nas doses de insulina;
- Após o mergulho, a glicemia deve ser medida durante as próximas 12 a 15 horas após o final da atividade.
#5 Como a equipe de mergulhadores profissionais pode ajudar na operação?
Caso que valem atenção e leitura: esta reportagem conta a história de um mergulhador em sobrepeso, diabético e experiente que, no mar agitado, enfrenta problemas e quase se afoga depois que uma escada bater em sua cabeça.
Para quem deseja maiores informações sobre diabetes e mergulho, a DAN tem uma publicação em inglês que contem um Manual para diabéticos para prática de mergulho recreativo. Vale a pena conferir, pois tem muita informação relevante e dicas de como se comportar e controlar a glicose no dia do mergulho. Não só para o mergulhador diabético, mas para o profissional que acompanha este mergulhador.
Resumo da ópera: faça sempre um bom julgamento das suas reais condições físicas para o mergulho. Não abuse, conheça teu organismo e o entenda primeiro para não se meter em enrascadas. Consulte seu médico e avise sobre a sua escolha esportiva antes de começar a atividade. Mas não desista de mergulhar, pois é uma coisa que você pode fazer, desde que de forma controlada e consciente.