Mudanças climáticas. Este é um assunto que preencheu minha carreira por 7 anos e continuo morrendo de amores. Dediquei muito tempo entendendo todas as regras de Kyoto e assistindo, de longe, de nosso país emergente, todas as discussões que não avançavam em torno do combate ao avanço do aquecimento global e da luta para determinar uma máxima temperatura aceitável para a sobrevivência humana. Agora mergulhando, percebemos diariamente a importância deste tema para os Oceanos e como este assunto afeta o equilíbrio de todo o planeta.
Nesta semana, estamos em meio à organização de um evento mundial organizado pelo WWF para que pensemos sobre o assunto: A Hora do Planeta. Durante 1 hora no dia 19/3, a partir das 20h30, a proposta é demonstrar sua preocupação com o aquecimento global e as mudanças climáticas, apagando suas luzes durante sessenta minutos. Saiba mais acessando a Folha síntese da Hora do Planeta 2016.
Pois as recentes negociações climáticas de Paris levaram, finalmente, a um novo acordo climático global. Este acordo histórico envolve 195 países trabalhando em direção a uma redução das emissões globais de gases de efeito estufa “restringindo” o futuro aquecimento global a um aumento de “substancialmente menos do que 2° Celsius”, um novo alvo que foi apenas um dos muitos novos componentes do acordo climático marco. O blog Ocean Conservancy foi a base da minha pesquisa sobre o que isso significa para a saúde dos nossos oceanos.
#1 ACIDIFIcação do oceanos? mas o que é?
Ao longo da história do mundo, 30% do CO² emitido pela ação do homem vai parar no oceano. Quando a água (H²O) e o gás se encontram, é formado o ácido carbônico (H²CO³) que se dissocia no mar, formando íons carbonato (CO³-²) e hidrogênio (H+).
O nível de acidez se dá através da quantidade de íons H+ presentes em uma solução – nesse caso, a água do mar. Quanto maior as emissões, maior a quantidade de ions H+ e mais ácido os oceanos ficam, chegando a marca de pH 7,5 em algumas regiões do mundo.
#2 Quais os sintomas desta acidificação?
Esta acidificação afeta diretamente organismos calcificadores, como alguns tipos de mariscos, algas, plânctons, moluscos e, especialmente, corais. Esse nível de acidez (~7,5), é uma dose letal para as larvas de ostras, por exemplo.
Em quantidades normais de absorção de CO2 pelo oceano, as reações químicas favorecem a utilização do carbono na formação de carbonato de cálcio (CaCO3), que é utilizado por diversos organismos marinhos na calcificação. Com o aumento intenso das concentrações de CO2 na atmosfera, decorrente das mudanças climáticas e emissões de gases de efeito estufa, e consequente diminuição de pH das águas oceânicas como explicado acima, o sentido das reações químicas é alterado, fazendo com que o carbonato dos ambientes marinhos se ligue com os íons H+, ficando menos disponível para a formação do carbonato de cálcio, que é essencial para o desenvolvimento dos organismos calcificadores listados acima.
Ou seja, com a diminuição das taxas de calcificação nos oceanos, o estágio de vida inicial destes organismos, bem como sua fisiologia, reprodução, distribuição geográfica, morfologia, crescimento, desenvolvimento e tempo de vida são afetados.
Além disso, afeta também a tolerância às mudanças na temperatura das águas oceânicas, tornando estes seres vivos ainda mais sensíveis. O que interfere na distribuição destas espécies. Naturalmente, ambientes que apresentam altas concentrações de CO2, como regiões vulcânicas, são demonstrações dos ecossistemas marinhos que teremos, se a acidificação continuar: baixa biodiversidade e elevado número de espécies invasoras, como mostra a figura abaixo.
#3 erosão? mas isso não acontece somente em morros com invasões de casas?
Uma outra consequência da acidicação é que, com a perda de biodiversidade de ecossistemas marinhos, a erosão de plataformas continentais que não apresentarão mais corais que ajudam a fixar os sedimentos, ocorrerá com maior frequência. Estima-se que até 2100, cerca de 70% dos corais de águas frias estarão expostos a águas corrosivas e perderão grande parte de sua biodiversidade. Ou seja, muitos pontos de mergulho perderão interesse comercial, inclusive, transformando antigos paraísos de mergulho em “desertos oceânicos”.
#4 mas Não tem parte positiva disso tudo?
Há sim cientistas que “defendem” a acidificação, pois suas pesquisas apontam que alguns microrganismos se beneficiariam com este efeito nos oceanos, já que alguns microrganismos marinhos se alimentariam de plânctons, que ficariam mais disponíveis no oceano graças à solubilidade de alguns metais em decorrência de um baixo pH, como o Ferro III, que é um micronutriente essencial para o plâncton, que, consequentemente, consumiria mais CO2 para fazer fotossíntese. Além disso, o fitoplâncton produz um componente chamado dimetilssulfeto que, ao ser lançado para a atmosfera, contribui com a formação de nuvens, que refletiriam os raios solares, possivelmente ajudando a controlar o aquecimento global. Este efeito, obviamente, altera muito o fluxo normal deste ecossistema e não podemos prevevr com clareza de que será um bom efeito positivo, ou que remediaria o aquecimento global. Sendo assim, por precaução, o melhor é não apoiar as negociações com base nesta teoria.
#5 Qual é o efeito das mudanças climáticas sobre as correntes oceânicas?
Pois então, com as mudanças climáticas, pode ocorrer uma redução da mistura em grande escala de água – circulação – ao longo do oceano, ocasionando o aumento das chuvas em mar aberto e degelo generalizado, criando uma camada maior de água doce que retardaria ou evitaria a circulação normal dos oceanos e, portanto, afetando as correntes. O que diretamente mudaria as colheitas no Canadá, Inglaterra e norte da Europa.
Portanto, o consenso atual entre os cientistas é que a circulação dos oceanos não é suscetível de ser interrompido se o aquecimento global fosse limitado a 2°C; no entanto, com 3 a 5°C de aquecimento, uma série de especialistas entrevistados pelo Conselho Consultivo Alemão sobre a Mudança Global acha que o risco é maior do que 50 por cento de ocorrer mudanças drásticas na circulação dos oceanos.
#6 O que mudou nesta última negociação em paris?
Felizmente, ou não, a saúde dos nossos oceanos foi um tema de destaque nas discussões. A grande diferença em 2015 é que defensores do oceano de todo o mundo se reuniram e contaram vastas histórias de casos de acidificação dos mares e outras mudanças causadas pelo aquecimento global impactando diversos cantos do mundo, inclusive, as atividades econômicas associadas aos mares, como produções de vários alimentos do cardápio conhecido como “frutos do mar”.
Os efeitos nos oceanos ameaçam ecossistemas inteiros e as economias costeiras. Agora, estamos começando a nos preocupar com lagostas, caranguejos e pteropods, uma importante fonte de alimento para espécies de salmão emblemáticos da Noruega! Agora o mundo não terá mais comida japonesa!!! WOW! Aí não, vamos falar de oceanos, gente!
Todos estes caras tem sofrido as consequências e não precisamos ir muito longe para comprovar os fatos, veja o vídeo do #SAL sobre a constatação deste problema em nossa costa, RJ:
#7 o que precisa ser feito então?
Agora é que o trabalho duro realmente começa. Devemos, como países, progredir nos assuntos relativos à eficiência energética, veículos elétricos e o crescimento de fontes de energia renováveis, como eólica e solar. Estes são importantes blocos de construção para o progresso no combate às alterações climáticas em que se beneficiarão nossos oceanos.
Como mergulhadores, temos que pensar em formas mais eficientes de transporte pelo mundo, que tal um barco a vela? Por que ninguém pensa na vela? Fato é que motores à combustão te levam com maior rapidez aos destinos, mas nem sempre te proporcionam a melhor experiência, já que a natureza se assusta com este ruído.
Precisamos, como mergulhadores, também disseminar nossas fotos do fundo do mar e compartilhar aquilo que tão poucas pessoas tem a oportunidade de conhecer e observar o regresso e ameaça que temos diariamente por conta da ação humana!
Precisamos militar juntos para que possamos mostrar que as mudanças climáticas não se referem somente aos ursos polares (a propósito, nada contra os ursinhos, são lindos e merecedores de nossa preocupação), mas que os oceanos e toda a biodiversidade marinha estão sofrendo com o aumento das emissões de gases de efeito estufa. Logo teremos mergulhos com menos peixes, com menos cores, com menos vida, porque não cuidamos de nossos oceanos.
Cuide do planeta, participe da Hora do Planeta, reflita sobre este tema, mude seus hábitos, gaste menos energia, consuma menos produtos, produza menos lixo! Assim, você poderá fazer parte do grupo que defende mergulhos incríveis por muitas gerações e não somente a sua.